Depoimentos


"Para mim ele foi tudo. Meu compadre, meu pai de criação, meu zelador. Só qualidades." (Doné Mirtéia de Ogun, iniciada por Djalma de Lalú)


"Falar sobre o sr. Djalma Souza Santos é uma tarefa que requer cuidado para não se cometer injustiça. Mas falar do Sr. Djalma de Lalú fica fácil, pois ele foi referência em humildade e passou para os filhos o conceito de família que temos até hoje. Para as pessoas que o conheceram no mundo do candomblé ele conseguiu fama e prestígio, tanto que até hoje na Bahia ainda é referenciado. Com todo o respeito aos demais, mas ele foi único. Ensinou o amor ao vodun em toda a sua essência . O que posso dizer é que a saudade é imensa. Igbaralonan é eterno." (Doté Rubens de Omulu, iniciado por Djalma de Lalú)


"Definir pai Djalma não é difícil. Difícil é aceitar sua passagem para o Orun. Quando Jorge de Oguian me levou para o Kwe Ceji Lonã, ali eu encontrei mais do que um pai de santo e um amigo. Ali eu encontrei um pai, pois perdi meu pai carnal aos 8 anos tendo presenciado sua morte. Djalma de Lalú pra mim foi um pai que eu não tive. Se existe um super herói na vida de uma criança ou adulto, ele foi meu super herói. Respeitando todos os babalorixás e iyalorixás que passaram nessa terra, mas meu pai era completo e único. O grande parceiro das noites do telhadinho conversando sobre vários assuntos. E já doente, o papo na beira da sua cama. Pra mim, dentro do meu coração, será insubstituível. Pai, onde o senhor estiver, eu amo o senhor!". (Nilo de Heviossô, ogan de Lalú).


"Eu serei sempre grata. Não tem como explicar este sentimento com palavras, mas aqui dentro do meu coração, o seu lugar é especial. Tenho algumas lembranças que ainda me fazem sorrir: o primeiro e único abraço dele ao me dizer: "Você vai ficar boa!". Um mingau de sagu, que ele ou Pinguilin fez questão de levar para meu barco quando estávamos recolhidas. E por falar em Pinguilin, ainda acho graça quando ele inventou que o "boi" era meu e que eu deveria levá-lo para pastar por algumas horas e depois trazê-lo de volta. Quanto medo! O momento mágico e inesquecível e que ainda hoje se faz presente ao ouvir o galo cantar. Todo dia havia a reza que acontecia ainda de madrugada. Era um misto de silêncio com nossas vozes e galos cantando. Mas um dia fomos acordadas por sua voz que vinha lá do sobrado onde ele morava e que era anexo à roça. Ele cantava e nós respondíamos em total sintonia. Só quem viveu este momento pode imaginar a emoção do mesmo, que nada, nada mesmo vai apagar de minhas lembranças. Com certeza era ali que tudo tinha que acontecer e por tudo que recebi, muito obrigada Pai Djalma por você ter existido em minha vida." (Vera Lucia Velloso, iniciada por pai Djalma para o orixá Obaluae) 


"Djalma de Lalu era uma pessoa muito conhecida, não tinha quem não conhecesse. Foi muito bom pra mim, eu gostava dele como ele era. Não tenho do que reclamar. Sinto muita falta até hoje. Foi minha família. Deixou saudades." (Elisabete Pereira, iniciada por pai Djalma para o orixá Nanã)


"De todos que conheci ele foi o melhor. Não há zelador como ele. Deixou grandes saudades. Me relacionava muito bem com ele e o respeitava muito." (Vindalva Valentim, nora de Djalma, viúva de seu filho carnal, Osmar)


"Ele fez parte da minha infância. Iniciei-me em 1975, ele é meu pai pequeno e era compadre da minha falecida mãe. Fiz orixá com dois anos de idade com Pai Waldomiro Baiano e ele (Djalma) que deu meus bichos e raspou partes da minha cabeça. Eu estava diagnosticado com leucemia. Lembro-me de uma passagem quando eu tinha oito anos e Exú o pegou dormindo. Só me recordo que Exú falava que fossemos ver as imagens de bichos na espuma do mitorô que ele fez...mas ninguém via só nós (crianças) conseguíamos ver. Não guardo muita lembrança, pois tinha medo por não entender quando era meu pai que me dava pirulito zorro e quando era o Pinguilin (erê) que nos batia e tomava nosso brinquedo. Mas depois eu aprendi a respeitar. Ele era devoto de S. Lázaro. Muitas saudades. Mas agora ele faz parte dos grandes ancestrais que lutaram para hoje estarmos aqui levando esse legado." (Célio ty Oluaye)


"Fui iniciado em 1968 por finado pai Nezinho d'Ogun, Asé do Portão do Muritiba em 1968, apelidado carinhosamente de Osalazinho do Muritiba por minha avó de Santo, saudosa Mãe Menininha do Gantois. Em 1973, Pai Nezinho veio a falecer e tempos depois mudei-me para o Rio de Janeiro e fixei-me em Nilópolis/RJ. Lá fui conhecer o já famoso Babalorixá Djalma de Lalú, filho de finado Tata Fomutinho e já inimigo de um irmão de santo meu, o finado Jorge Buda. Pai Djalma era amigo pessoal de minha avó materna desde a Bahia, razão pela qual ela ia sempre à casa dele e consequentemente isso era levado para Jorge Buda, causando uma certa amargura, pois éramos irmãos. Cheguei ao ponto de ser proibido de entrar em ambas as casas (risos). Primeiro sofri ameaça de ser proibido de entrar na casa de Buda se continuasse indo à casa de Djalma. Depois foi Djalma quem me proibiu de entrar na casa dele porque ficou sabendo que eu deixei de ir à sua casa por uma ameaça de Buda (risos). Até que minha finada tia Bida de Iyemonja soube e resolveu intervir junto a Buda pra acabar com aquela situação. Já do outro lado, contei com o auxílio de outras egbomis, como Theodora que gostava muito de mim e mãe Jurema de Jagun. Com isso as proibições caíram nas duas casas. Era uma coisa de louco aquilo. Mas Djalma era uma pessoa maravilhosa, detentor de um vasto cabedal de conhecimento. Saudades." (Fábio de Olufon)


"Lá pelos anos 60, quando eu tinha 9 ou 10 anos, eu sempre passava pela porta do barracão de Sr. Djalma quando eu ia pra casa de uma filha de santo de meu pai carnal. E quando eu passava por lá eu tinha um respeito muito grande chamado MEDO. Porque alguns diziam que se nós passássemos em sua porta ele jogava um pó branco que fazia cairmos no chão para depois nos colocar num quarto escuro de onde não sairíamos mais (risos). Eu tinha um medo danado dele. O tempo passou, eu cresci, fiz meu santo e conheci algumas filhas de santo de Sr. Djalma. Um dia eu estava na feira com meu pai de santo e nos encontramos com ele. Meu pai virou pra mim e falou: "Toma a benção a ele que é Sr. Djalma". Aí eu fui tomar bença e ele falou assim pro meu pai de santo: "Esse menino é seu iyawo? Pois ele passa por mim e nem olha pra minha cara. Nunca me tomou a benção. Só está tomando agora porque você está mandando". Baixei a cabeça e morri de vergonha. Os tempos se passaram, até que tomei mais intimidade com a casa dele, a amizade foi crescendo com as filhas de santo e meu irmão João casou com Valéria de Oxalá e foi morar no quintal de Sr. Djalma. Aí a amizade ficou mais forte ainda. Ele passou a conversar comigo. Às vezes ele estava no telheiro e me chamava para conversar, me ensinando um bocado de coisas. Ele falava que o pessoal enchia a boca pra dizer que é Djedje, mas não sabiam o que é grá nem adarrun. Até que chegou o dia que ele foi recolher a última iyawo, Elis de Oxum, e fui pro candomblé. Lá, Sr. Djalma me deu a iyawo para tirar o nome. O candomblé acabou muito cedo e a casa começou a encher quando já tinha acabado tudo. Foi então que Paulo da Pavuna chegou e perguntou: "Gente essa iyawo não sai?". Daí Sr. Djalma respondeu: "A iyawo já saiu, já deu nome e já recolheu. Quem tirou o nome foi Criolo". E Paulo da Pavuna respondeu: "Parabéns Criolo!". Pois é. Eu que tirei o nome da última iyawo de Djalma de Lalú. Eu devo muito a ele. Me ajudou muito, me ensinou muita coisa e tinha respeito por mim. Ele sempre me dizia: "Vc é de Nanã, mas eu gosto mais de ver você de yansã" (risos). O falecimento dele foi muito triste pra mim. Djalma de Lalú faz muita falta". (Babalorixá Criolo de Nanã)


"Iniciei minha vida espiritual aos 12 anos por motivos particulares. Porém hoje com 46 anos de santo, tenho enorme orgulho de dizer que foi meu pai Djalma de Lalú quem me iniciou a ser o que sou. Agradeço o carinho, a dedicação, o respeito e a amizade vivida em seu terreiro, pois meu pai viveu nos melhores momentos de minha vida, desde pequenos instantes a grandes acontecimentos. Hoje sinto uma falta enorme de suas palavras amigas e até mesmo de suas broncas. Sei que de onde ele está sempre lembrará de nós. Hoje posso falar com orgulho que entrei no barracão dele uma simples Valéria e saí Dofona de Oxalá, filha de Djalma de Lalú". (Valéria de Oxalá, iniciada por Djalma de Lalú).


"Sou filho de santo de Djalma de Lalú do barco de Renê de Agué, Pinduca do Obaluae, Rosicléia da Oxum, Dona Cota da Oxum e Seu Jorge de Yansa. Minha família toda era da casa de Seu Djalma: Ekedy Mocinha era minha avó, Ekedy Bubuca de Xango, minha irmã Boneca de Oguian, meu primo Carlinhos de Xangô e Paulinho de Oxalá. Fiz santo menino com sete anos no dia 6 de setembro de 1957. Djalma de Lalú foi um bom pai de santo. Morávamos na casa dele e ele cuidava bem da gente. Eu adorava meu pai Oxossi, meu pai Lalú e o erê Pinguilim. Ele era um pai de santo rígido mas honesto, de bom coração. O negócio lá não era mole não. Eu só tenho a dizer boas coisas sobre ele. Que a alma dele fique em paz com muita luz e que Deus o abençoe porque ele foi muito bom pra mim." (César Romero, Maneco)


"Conheci o pai Djalma através de minha ex-mulher, Ekedy Emília de Iansã, no começo dos anos 90. Naquela época eu já era ogan confirmado, iniciado por um pai de santo aqui de SP. Eu sempre estava a procura de conhecimento sobre minha iniciação. Mas o começo de nossa relação foi muito difícil porque ele não simpatizou comigo, mas mesmo assim, sempre que podia saia de SP para visitá-lo e chegando em sua casa ele mal olhava para mim ou sequer conversava comigo. Até que um dia fomos à feira com o pai Djalma, o Rubens e minha ex-mulher. Lembro-me que ele estava com vontade de comer peixe, mas por algum motivo que não me lembro, ele acabou não comprando e acabamos voltando para a casa dele.

Eu não me dei por conformado e fui atrás do peixe. Chegando na casa dele, lembro-me muito bem da cena: ele estava de costas andando, quando o chamei e disse: "Pai Djalma, eu comprei uns peixes para o senhor". Então ele voltou-se para mim com uma cara bem séria, abriu o pacote e viu que era sardinha. Ele me olhou e me disse: "Olha, eu nunca gostei de gente de Xangô. Mas você é o primeiro em quem acho que posso confiar". O estranho é que eu na minha inocência não percebi que havia comprado sardinha, pois dizem que é quizila. Mas ele não ligava para isso, pelo contrário, ficou muito feliz e a partir daí começamos a nos entender.

Pinguilim e eu passavamos até altas horas da madrugada conversando até ele pedir para levar o Djalma para dormir. Ele para mim foi mais que um pai. Me disse tudo sobre minha confirmação de ogan. Ele e a saudosa mãe Celina de Iansã me disseram: "Está tudo certo, seu pai de santo não fez nada de errado. A única coisa que não está certa é seu nome". Então ele me disse para ir dormir e que Pinguilim ia trazer meu nome. No outro dia Pinguilim me disse: "seu nome é Ogan Lamil para o público, entendeu?". Aprendi com Pinguilim de tudo um pouco. Ele e Oxossi confiavam muito em mim. Mas depois de seu falecimento acabei ficando desnorteado e hoje vivo em minha casa na paz de Oxalá. A Benção meu Pai Djalma, a Benção meu pai Pinguilim, sinto muito sua falta." Ogan Lamil


*Veja aqui o vídeo com o depoimento de finada Mãe Cantú sobre Djalma de Lalú

Conteúdo liberado sobre a licença CC-BY-SA 3.0 - Texto: Sabrina Falcão, jornalista * Pesquisa: Nilo Almada - Kwe Ceji Lonã 
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